
Luiz Moreira
A infecção do trato urinário (ITU) é uma patologia extremamente frequente que ocorre em todas as idades, do neonato ao idoso. Na vida adulta, sua incidência se eleva e o predomínio no sexo feminino se mantém, com picos de maior acometimento no início da atividade sexual ou relacionado a ela, durante a gestação ou menopausa, de forma que 48% das mulheres apresentam pelo menos um episódio de ITU ao longo da vida.
A frequência de micro-organismos causadores varia na dependência de onde foi adquirida a infecção, intra ou extra-hospitalar, e também difere em cada ambiente hospitalar considerado. Os maiores responsáveis pela ITU são as bactérias gram-negativas entéricas, especialmente Escherichia coli, seguida das demais gram-negativas, como Klebsiella, Enterobacter, Acinetobacter, Proteus e Pseudomonas.
Uso de D-Manose e Cranberry no Tratamento das ITUs
A D-manose é um açúcar de 6-carbonos e um isómero de dextrose, diferindo-se apenas na posição do grupo hidroxilo no segundo carbono. É principalmente derivado da glicose através da enzima fosfomannose isomerase (PMI). D-Manose também é encontrado naturalmente em frutas, como maçãs, arandos, laranjas, pêssegos, mirtilos e abacaxis. Está relacionado à glicose, mas não se comporta como açúcar no corpo. Essa substância é eficaz no tratamento da infecção urinária causada por Escherichia coli (bactéria formada por fímbrias do tipo I; as fímbrias são filamentos presentes nas bactérias com função de aderência).
As células da parede do trato urinário são constituídas de glicoproteínas que contêm D-manose em sua estrutura, sendo que as fímbrias do tipo I das bactérias E. coli possuem receptores (adesinas) compatíveis. Quando essas bactérias são expostas a uma grande quantidade de D-manose livre na bexiga (durante o tratamento), se ligam a ela ao invés da D-manose da estrutura das células do epitélio urinário, uma inibição competitiva que evita a aderência e, consequentemente, o início da infecção. Uma vez ligadas à D-manose livre, as bactérias não conseguem aderir ao epitélio do trato urinário e são expulsas da bexiga durante a micção.
O Cranberry é uma fonte de ácidos orgânicos e fenólicos, flavonoides, triterpenoides pentacíclicos, antocianinas e proantocianidinas (PACs). As PACs reduzem moléculas de adesão da bactéria E. coli, tornando as bactérias menos capazes de aderir às células que alinham o trato urinário e a bexiga, deixando-as mais propensas a serem levadas durante a micção.
Resultados
Um estudo conduzido por Radulescu et al. (2020) avaliou os efeitos da combinação de cranberry e D-manose em pacientes com infecção aguda do trato urinário. Os resultados obtidos foram:
As taxas de cura foram maiores no grupo de pacientes tratados com antibióticos em associação com o cranberry e a D-manose em comparação com o grupo tratado com antibióticos e placebo (91,6 vs. 84,4%);
Em cepas resistentes, uma taxa de cura significativamente maior foi mostrada com o extrato de cranberry e a D-manose ao antibiótico em comparação com o grupo tratado com antibióticos e placebo (88,8 vs. 37,5% - 0 < 0,0001);
Os efeitos da combinação de cranberry e de D-manose promoveram melhoras significativas no controle das infecções agudas do trato urinário.
Conclusão
A significativa taxa de cura registrada nos pacientes com cultura de urina resistente a antibióticos pode ser explicada por uma influência benéfica do cranberry e a D-manose na sensibilidade antimicrobiana.
Referência bibliográfica
RADULESCU, D. et al. Combination of cranberry extract and D-mannose - possible enhancer of uropathogen sensitivity to antibiotics in acute therapy of urinary tract infections: Results of a pilot study. Exp Ther Med. 2020 Oct;20(4):3399-3406. doi: 10.3892/etm.2020.8970. Epub 2020 Jul 7.